- Foda-se essa merda
toda, então!
E pegou a bandeira,
saindo violentamente porta afora.
Chegando na rua,
bandeira em punho elevada sobre a cabeça, marchou firmemente entre
os carros. Não, não tente entender o que ele estava fazendo. Apenas
aceite o fato. Pé ante pé marchava pela faixa central da avenida.
É claro que um homem
andando decidido exibindo imponente estandarte chama atenção. E,
contra os carros, três pessoas começaram a seguir o marchante. É
claro que três pessoas seguindo decididas um homem exibindo
imponente estandarte chamam atenção. E mais alguns uniram-se ao
grupo.
Não era algo
homogêneo, mas a estranheza acabou atraindo mais e mais pessoas:
'tanta gente diferente unida por um único ideal deve ser algo que
vale a pena seguir'. Sim, agora havia um ideal. Ninguém sabia
direito qual era, mas devia haver. Qual outro motivo para aquilo? Aos
novatos era explicado os porquês de marcharem. Logo eram os
ex-novatos a fazerem os mesmo aos novos.
Em pouco tempo tantas
pessoas seguiam a bandeira que a avenida já tinha seu trânsito
paralisado. E mais, e mais. E mais gente se unia ao grupo buscando
mudanças, melhorias e todas as outras coisas que aquele grupo
deveria estar buscando.
Quando o número dos
marchantes chegava à casa dos milhares e a bandeira tremulava mais
forte que nunca, a avenida chegou ao fim. O primeiro a cair foi
aquele primeiro a marchar. A multidão caiu em seguida. Um atrás do
outro caiam como se não percebessem o abismo que havia a sua frente.
Ninguém parava diante da beira do penhasco. Sim, o mundo acabava
ali. Isso desvalorizava um pouco os prédios naquela região. E ali,
ao fim da avenida e do mundo abria-se o abismo. Para baixo somente a
escuridão sem fundo. Era ali que caiam os marchantes. Caíram e
caíram.
Lá embaixo, se
forçassem bem os olhos, ainda podiam ver uma bandeira tremulante.
http://www.arscives.com/cronicasdoriente/images/brueghel%20os%20cegos.jpg
ResponderExcluirimagem que eu sugeriria ao conto.