domingo, 14 de junho de 2015

Colar de Pérolas

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Colar de Perolás





O noivo esperava de olhos fechados enquanto sua Sire despia-se. Ele sentava-se na ponta da poltrona de tecido escuro e deu um leve sorriso, quando a ouviu tirando os sapatos. Imaginava a garota em pé olhando-o. O vestido floral escorreu pelo torço quando ela tirou a alça dos ombros. Afastou a franja do cabelo cor de piche, para ter certeza que ele não espiara no momento em que a roupa tocou o tapete. Podia ouvir sua respiração. Esperando.
A Sire não resistiu ao crescente pedido da Besta, a vontade queimava em sua garganta. Então seus dedos frios percorreram a pele despida de alabastro e faziam-no ter suaves arrepios. A temperatura do corpo níveo dele lembrava-na melancolicamente de uma segunda vida, roubada tão precocemente. Uma rosa deflorada em botão.
Ao doce comando dela, seu noivo abriu os olhos na penumbra das horas mortas. A mulher não sorriu ou se moveu, já tinha encenado aquele ato incontáveis vezes. Não sabia como agir agora que o sentimento não era uma alegoria, tinha medo de deixar-se consumir pelo frenesi e acabar matando o seu amado no processo. Ele deitou seus olhos no corpo nu dela, olhos mortais que vivem tão brevemente e que por esse motivo, nunca conseguem contemplar a perfeição antes que os mesmos fiquem baços e a vida esvaia deles.
Seu corpo era a personificação de Galateia e Caim seu escultor. Seios pequenos, tronco largo, coxas roliças e a pele tão pálida quanto o lírio desabrochado. Para ele, as coisas belas e sedutoras aos sentidos passariam despercebidas e a existência seria um desperdício, se nunca tivesse se apaixonado.
Palavras foram escapando pelos lábios dele, cortando o silêncio e o coração inerte dela. Seus olhos pretos faiscaram e a besta sibilou. Odiava aqueles elogios dirigidos a ela, odiava a adoração vacilante daquele que a amava ingenuamente, odiava aquele amor que nunca tinha sentido e fazia seus lábios se contorcerem num sorriso, odiava porque agora que tinha poderia perder.
Palavras foram escapando pelos lábios dela, trazendo perto de si o silêncio e o coração inquieto dele. Os olhos azuis do seu amado tornaram-se graves e obedientes, ele se ajoelhou para sua senhora e a observou paciente quando ela se ajoelhava também. Sire trouxe-o para seu regaço e deixou que a Besta a guiasse pelas mãos da luxúria. O lábio quente do mortal a fazia gemer em murmúrios baixos, enquanto sentia suas bocas se devorarem e o desejo os consumir. Ela o segurou pelos cabelos claros e rebeldes e ouviu o ulular do Vale dos Ventos quando tocou o pescoço do noivo com um beijo. Casais trocam promessas desfeitas e alianças, eles queriam a eternidade.
Ela fez pressão com os lábios e depois com os dentes na carne macia, o noivo se bateu, o coração desacelerava as batidas até quase silenciar, quando a noiva lacera o pulso deixando que o carmesim da vida o amaldiçoasse. Ele sorveu com gana o sangue que jorrava até saciar a Besta que se contorcia em êxtase enquanto ele podia sentir o rabo de Minos enlaçando-os três vezes.

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