sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Volta




Volta



Uma coisa engraçada sobre decisões: Quanto mais rápido você executá-las, mais fácil de não desistir. A velha teoria do band-aid sabe?
Caminhar até o ponto de ônibus, e pensar na dezena de paradas que te separam do seu objetivo pode ser muito desanimador. Se tivesse um carro, ele já estaria na porta dela, pronto para começar a gaguejar alguma desculpa que deixa-se claro: Acabou.
Mas vocês sabem como são os ônibus, grandes responsáveis pela nossa filosofia diária. Nada purifica tanto a mente quanto encarar o vazio das paisagens que já não reparamos, tamanho o número de vezes que passamos por elas, esse tipo de transe desperta divagações, lembra-nos do que há por vir além do ponto final, e às vezes, apenas dormimos.
Ao sentar-se à janela, dando ênfase ao lado dramático destas, procurou se convencer de que tinha todos os motivos para fazer a coisa certa. Ela bem que tentava, mas parecia que entre eles só crescia o silêncio. O problema é que não conseguia se lembrar de nenhuma briga, nada que fosse concreto o suficiente para dizer "Sabe aquilo, daquele dia? Foi a gota d'água!" Não havia, ele pouco reclamava e ela tudo aceitava.
-Mas que merda! - Exclamou, deixando a frase escapar mais alto do que imaginara. Olhares de curiosidade se viraram para ele, tão rápido quanto vieram se dissiparam, afinal, sempre tem o louco que fala sozinho.
Resmungava um discurso para quando chegasse a hora, remendando frases e dando voltas intermináveis, até que se distraiu com a rua pela qual passava. Viu a placa de um bar levemente o escondida por um poste grosso. Fazia algum tempo tinham apanhado a condução errada por ali, tão bêbados que estavam só riam despreocupados do tempo. Aproveitaram o escuro para explorar novos lugares, caminharam cinco quadras na madrugada, como se não existisse perigo no mundo.
Ela tentava, é verdade...
O passeio dos olhos se focou numa senhora que entrava "Consigo ver a calcinha dela... Mas que bela visão." concentração não era bem o seu forte. O próximo pensamento foi um vídeo do Buzzfeed que mostrava homens provando calcinhas, que despertou a idéia "Como eu seria sem um pintor?", que o fez pensar num documentário da Netflix, que o lembrou da lista de filmes Cult que sempre ficava para depois, Feline era menos interessante que um episódio repetido de Friends, riu-se de alguma piada feita por Phoebe, que o levou a ela.
-Volta! - Disse enquanto estapeava levemente o rosto para acordar da série de pensamentos desconexos. Estava quase lá, dois pontos talvez, mas já não tinha certeza do que iria fazer. Pensou na caminhada até aquela porta e se ela estaria tendo um bom dia. Detestaria ser recebido com um sorriso, é muito mais fácil terminar com quem já está de mau humor. O que seria mais egoísta da parte dele?
Olhou pela janela e viu a paisagem familiar ficar para trás, não conseguiu descer, resolveu dar mais uma volta. Quem sabe outra dose, não lhe dava coragem?

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