terça-feira, 28 de julho de 2015

A Cadeira de Rodah



A cadeira de Rodah



  Rodah era um rapaz criativo. Inventava novos móveis na serralheria de seu pai. Alguns nem chegavam a ser móveis propriamente ditos, mas serviam como esculturas para decorar a casa de sua mãe, a qual mostrava aos vizinhos com muito orgulho.
  Essa criatividade rendeu uma bela criação: uma cadeira. Mas não uma cadeira qualquer, afinal Rodah não era homem de “coisa qualquer”.
  A cadeira não caía. Isso mesmo! Nunca mais teríamos a preocupação de perder o equilíbrio, ao nos espreguiçarmos nos encostos das cadeiras comuns e acabar estatelado no chão.
  O truque da cadeira só Rodah conhecia. Qualquer pessoa poderia sentar ou ficar em pé nesse móvel e independente da força que se aplicava ou da direção em que era empurrada, a cadeira não mostrava nem suspeita que iria cair.
  Não  demorou muito para Rodah ficar famoso. Canais de televisão, repórteres, físicos e curiosos, debatendo qual era o porquê da bendita cadeira não cair. O ibope dos programas só aumentava. Os físicos faziam cálculos e cálculos para tentar achar uma função matemática que explicava o não-cair daquele pedaço de madeira. Foi proposto até a criação de uma nova área para se estudar nas universidades, a incaibilidade. Havia até um prêmio para quem derrubasse a cadeira, com direito à uma vaga no Livro dos Recordes.
  Todos estavam atônitos com a novidade, menos o criador dela. Rodah ficava cada vez mais irritado com a imprensa, do mundo inteiro, perturbando sua casa. Nem dormir ele conseguia direito. Ia para a cozinha tomar um copo de leite, e se deparava com uma câmera na janela, ficava cego com os flashs das fotografias.
  Não demorou muito para ele parar de atender os curiosos. Nem os vizinhos e parentes ele atendia mais. Seus pais, preocupados, foram até sua casa, e ao não serem recebidos, forçaram a porta da frente, arrombando-a.
 O silêncio perdurava na casa inteira. Só após entrarem no quarto é que encontraram o seu filho.
  Lá estava ele, pendurado pelo pescoço na luminário do teto. Enforcado com um cadarço grosso de tênis. O choque só foi maior quando notaram que, logo abaixo dele, encontrava-se a sua maior criação, a qual o criador usou para subir e dar fim a sua vida.
 Estava lá, enfim derrotada, derrubada, caída. Tal qual a vida de seu dono, a cadeira de Rodah.

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